Prolongamento do MTS à Costa da Caparica nas mãos do Metro de Lisboa


03/04/2024 - Lisboa para Pessoas


O Metro de Lisboa vai fazer os “estudos, levantamentos e demais trabalhos acessórios necessários” ao prolongamento do Metro Sul do Tejo (MTS) à Costa da Caparica, passando pela Trafaria, por São João da Caparica, pela Quinta do Torrão e pela Quinta de Santo António.


Linha 3 do MTS, em direcção à Universidade NOVA
Fotografia LPP


Por delegação do Estado, é o Metro de Lisboa que vai proceder aos “estudos, levantamentos e demais trabalhos acessórios necessários” ao prolongamento do Metro Sul do Tejo (MTS) à Costa da Caparica. Em cima da mesa, estará a continuação da actual Linha 3 do MTS, que termina hoje à porta da Faculdade de Ciências e Tecnologias (FCT) da Universidade Nova de Lisboa.

Pretende-se estabelecer “uma ligação rápida e estruturante” à Costa de Caparica, através de “um corredor que servirá a Trafaria, São João da Caparica, Quinta do Torrão, Quinta de Santo António e Costa de Caparica“. Este prolongamento tem enquadramento financeiro através do Programa Acção Climática e Sustentabilidade (PACS), um envelope de 3,1 mil milhões de euros da União Europeia, inserido no pacote Portugal 2030, para aplicar a vários projectos até 2027.
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O Metro Sul do Tejo é um sistema de metro ligeiro de superfície composto por três linhas, que interligam os concelhos de Almada e Seixal. O primeiro troço, entre a estação de comboios de Corroios e o centro de Almada (Cova da Piedade), abriu ao funcionamento em 1 de Maio de 2007. No final desse ano, ficou pronta a ligação à FCT e, um ano depois, o Metro chegou a Cacilhas. A exploração desta rede é privada, estando a cargo da MTS – Metro Transportes do Sul, empresa do Grupo Barraqueiro, que ganhou a concessão por 30 anos; está previsto o seu término em 2037.


Rede actual do MTS 
Frafismo Rúdisicyon via Wikimedia, CC BY-SA 4.0


Desde a entrada em funcionamento em 2007/08 que a rede do MTS não sofreu qualquer crescimento. As segunda e terceira fases do Metro Sul do Tejo, que consistiam num prolongamento pelo concelho do Seixal até aos concelhos do Barreiro e da Moita, nunca chegaram a avançar. Por outro lado, a ideia de levar o MTS à Costa da Caparica também é um plano com mais de uma década.

O estudo mais recente sobre o prolongamento do MTS data de 2021 e apresenta várias ideias para levar o Metro Sul do Tejo pelo denominado “Arco Ribeirinho Sul”, até Alcochete, passando pelo Montijo e também, claro, pelo Barreiro e pela Moita. Neste estudo, foram analisadas soluções de metro ligeiro (LRT), mas também opções à base de BRT (vulgo Metrobus). O trabalho foi presidido por João Abreu e Silva, professor no Instituto Superior Técnico, e agregou várias entidades e câmaras municipais, e também analisou uma extensão à Costa da Caparica, a partir da actual estação Universidade.
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O que já foi estudado e o que vai ser estudado agora

No entanto, o traçado que o Metro de Lisboa agora vai estudar deverá ser diferente daquele que foi estudado e apresentado em 2021. Nessa altura, pensou-se prolongar a Linha 3 do MTS em via dupla desde a FCT pela estrada nacional 377-1, do lado sul; antes da Quinta da Armadora, em Pêra de Cima, o trajecto seguiria para sudoeste, atravessando uma zona mais rural até ao viaduto de ligação da A33 à Trafaria, situado junto a Pêra; daqui, seguiria para oeste, aproximando-se do IC20 e desenvolvendo-se do lado norte desta via até à entrada na Costa da Caparica.



Traçado já estudado para o prolongamento do MTS à Costa da Caparica (via CMA/IMT)


Dentro da cidade, a linha passaria para via simples pela Avenida 1º de Maio, Avenida General Humberto Delgado, Rua Parque de Campismo de Almada, Estrada Florestal, Avenida D. Sebastião e Avenida Dr. Aresta Branco, fazendo uma espécie de circular e voltando ao IC20. A proposta agora em cima da mesa é levar o MTS a partir da FCT em direcção à Trafaria, fazendo-o ir por São João da Caparica, pela Quinta do Torrão e pela Quinta de Santo António, até à Costa de Caparica.

A escolha do Metro de Lisboa para realizar um novo estudo do traçado do prolongamento do MTS à Costa da Caparica foi feita através de uma portaria nos últimos dias do Governo de António Costa (a Portaria 410/2024/2); esta autorização é justificada por o Metro de Lisboa ser uma entidade pública que, por isso, será capaz de salvaguardar o interesse público. Além do mais, o Metro de Lisboa é uma “entidade pública empresarial com relevante experiência nacional e internacional” em matéria de sistemas de TCSP [Transporte Coletivo em Sítio Próprio], estando, inclusive, em processo de ter a sua primeira linha de metro ligeiro à superfície, a Linha Violeta em Loures e Odivelas.

“De entre os projectos de sistemas de TCSP na Área Metropolitana de Lisboa, surge como prioritário o prolongamento do sistema de metro ligeiro de superfície da margem sul do Tejo à Costa de Caparica, promovendo uma ligação rápida e estruturante entre o Campus Universitário da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e a Costa de Caparica, estendendo-se num corredor que servirá os aglomerados populacionais da Trafaria, São João de Caparica, Quinta do Torrão, Quinta de Santo António e Costa de Caparica, assegurando uma melhor conectividade dos seus territórios e destes à actual rede do Metro Sul do Tejo”, pode ler-se na referida Portaria 410/2024/2.

O Metro de Lisboa está autorizado a realizar a despesa correspondente, até ao montante total de 1,65 milhões de euros para a realização deste estudo, até 2026. Note-se que o Metro de Lisboa é, no novo Governo de Luís Montenegro, responsabilidade do Ministério das Infraestruturas, lideradas pelo ex-autarca de Cascais, Miguel Pinto Luz.


As conclusões do grupo de trabalho de 2021

MTS na estação do Pragal (fotografia LPP)


Em 2017, um despacho do Governo de António Costa criou um grupo de trabalho com “com o objectivo de promover um estudo de um corredor de transportes públicos em sítio próprio, em complemento e conexão com o sistema em operação na fase 1 do Metro Sul do Tejo” (Despacho n.º 11382/2017). Presidido por João de Abreu e Silva, professor do Instituto Superior Técnico, este grupo integrou as câmaras municipais de de Alcochete, Almada, Barreiro, Montijo, Moita e Seixal, também a Área Metropolitana de Lisboa, a Infraestruturas de Portugal (IP) o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e o Instituto de Mobilidade de e dos Transportes (IMT).

O trabalho ficou concluído em 2021 e analisou opções de Light Rail Transit (LRT), igual à solução actual, e de Bus Rapid Transit (BRT), à base de autocarros eléctricos em vias exclusivas. Ficaram definidas duas grandes possibilidades: um Cenário 1 com LRT nos prolongamentos previstos em Almada (o da Costa e o da Margueira) e na extensão até Alhos Vedros, na Moita, com BRT/Metrobus deste ponto até Alcochete, devido à menor densidade populacional; e um Cenário 2 LRT nos prolongamentos em Almada e BRT de Corroios até Alcochete. Estima-se que o BRT pudesse ter uma capacidade para 150 lugares, inferior aos 280 lugares do metro ligeiro. O investimento custaria entre 719 e 740 milhões de euros no primeiro cenário e entre 540 e 585 milhões no segundo.


Soluções estudadas em 2021 (via IMT)


O traçado estudado de acordo com os dois cenários (via IMT)


Embora o projecto original do Metro Sul do Tejo já contemplasse a expansão do actual sistema nos concelhos do Seixal e Barreiro, com a criação deste grupo de trabalho pretendeu-se estudar a sua expansão também aos concelhos da Moita, do Montijo e de Alcochete, promovendo uma ligação contínua entre Almada e Alcochete, no chamado “Arco Ribeirinho Sul”.

Podes consultar aqui toda a documentação do estudo de 2021:

📁 Documentos


Metro de Lisboa vai estudar outras linhas de TCSP [Transporte Colectivo em Sítio Próprio]

Além da linha do MTS para a Costa da Caparica, o Metro de Lisboa vai ser responsável por estudar outros projectos de TCSP [Transporte Colectivo em Sítio Próprio] na área metropolitana de Lisboa. Nesta terça-feira, 2 de Abril, foi assinalado um protocolo de colaboração entre a Área Metropolitana de Lisboa, os Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML) e o Metro de Lisboa para o “desenvolvimento de estudos, planeamento e concretização de projectos que visem a consolidação de uma rede de Transporte Colectivo em Sítio Próprio no território da área metropolitana de Lisboa”, informou a TML.

Neste protocolo, a AML e a TML “contribuirão com o desenvolvimento de estudos e projectos de planeamento e de ligação ao território bem como estudos e projectos de enquadramento“, enquanto que o Metro de Lisboa “contribuirá com a componente técnica de estudos e projectos de engenharia, nomeadamente tecnologia de metro ligeiro e eléctrico rápido. Esta parceria envolverá naturalmente os municípios onde cada estudo ou projecto se desenvolverá”.

Segundo Carlos Humberto de Carvalho, Primeiro-Secretário da AML, este é um “protocolo global, genérico” para trabalhar em conjunto na criação de soluções de TCSP no território metropolitano de Lisboa. “O transporte em sítio próprio, que é uma prioridade, e deveria ser uma prioridade do país. Nós, na Área Metropolitana, queremos avançar, dar alguns passos.” Há soluções neste âmbito que estão no papel há décadas, outras que são mais recentes.


Projectos estruturantes na área metropolitana de Lisboa (via TML)



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