26/09/2009 - A Gazeta
foto: PMV
Metrô de superfície de Vitória: projeto
A proposta surgiu a todo vapor apresentada em uma animação gráfica como promessa de campanha nas eleições para a Prefeitura de Vitória, ainda em 2004. Mas hoje, após cinco anos, o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), mais conhecido como metrô de superfície, projeto do prefeito João Coser (PT), encontra dificuldades para sair do ponto morto e seguir os trilhos.
Alvo de polêmica durante a campanha, a ideia ocupou grande parte da propaganda política do então candidato petista durante o segundo turno das eleições daquele ano e sofreu com os ataques do tucano César Colnago (PSDB), rival na disputa, que considerava "falacioso" o projeto apresentado do metrô.
"Nosso foco central é o cidadão. Não a realização de grandes obras, como a do metrô. Nossa prioridade é o combate à pobreza. Nesse segundo momento, vamos mostrar as contradições do outro projeto", chegou a dizer o deputado estadual.
Defendendo a necessidade de uma administração moderna para a Capital, João Coser apareceu no horário político entregando uma síntese do plano ao presidente Lula. O candidato chegou a citar o projeto na TV, porém, como mostrou A GAZETA, o metrô de superfície não aparecia no documento.
"A síntese que foi entregue pode até não ter essa proposta, mas Coser falou disso com o presidente, e o fato apareceu na TV", argumentou o então coordenador da campanha petista, Sílvio Ramos, hoje diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Vitória, responsável pelo PDTMU - Plano Diretor de Transporte e Mobilidade Urbana de Vitória.
Sem apoio
Na fala do presidente Lula apresentada durante a propaganda eleitoral do candidato João Coser, não ficou claro nenhuma confirmação, por parte do Governo federal, de construção do metrô de superfície. A proposta, aliás, nunca teve o apoio do governador Paulo Hartung e o próprio prefeito admitiu, em entrevista, que precisaria de investimentos estrangeiros e do Estado para colocar a ideia em prática.
"Precisamos desse apoio. Até porque, como o próprio nome diz, é um transporte metropolitano. Então o gasto não pode ser de apenas uma prefeitura", destacou em 2007.
Esbarrando na falta de apoio político, o projeto também encontrou barreiras nos empresários do setor de transportes. Com a redução da frota de ônibus prevista no projeto do VLT, houve uma ameaça de que trabalhadores do setor se posicionassem contra a ideia, temendo o desemprego.
Sem novidades
Agora, cinco anos depois, o prefeito João Coser tem dito que continua apostando na ideia do metrô, embora reconheça a dificuldade de colocar o projeto em prática - em função da falta de parcerias e também da crise financeira. Mas, diferentemente do período de campanha, na semana passada Coser preferiu não atender a reportagem para falar sobre o projeto.
A prefeitura de Vitória, por meio da secretaria de Comunicação, informou que o plano de metrô de superfície ainda é apontado como a melhor alternativa para solucionar os problemas de trânsito na região metropolitana e que, mesmo seguindo em discussão por técnicos do município, não apresenta nenhuma novidade sobre a proposta.
Discursos de Coser
"O que nós falamos no debate é que é necessário um sistema de transporte mais eficiente, mais seguro e ambientalmente mais justo". No final de 2007, rebatendo críticas sobre sua campanha
"Vamos atrás de financiamento e parcerias para que a ideia saia. Quanto mais gente apoiando, melhor para conseguir o financiamento". Em fevereiro de 2008, ao comentar pesquisa sobre transporte público.
"Os grandes projetos naturalmente vão ocorrer, mas não vão ser iniciados antes de 2010". Em outubro de 2008, após ser reeleito prefeito da Capital
O metrô em números
R$ 920 milhões
É o custo total da obra, segundo a Prefeitura de Vitória. O metrô, movido a energia elétrica, vai ligar os municípios da Serra, Vitória, Vila Velha e Cariacica, percorrendo 31,1 quilômetros e 30 estações.
35,7% apoiam
Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Futura, em abril deste ano, na Grande Vitória, esse era o percentual que apontava o metrô de superfície como a melhor proposta para melhorar o trânsito da região.
Governo prefere corredor exclusivo
Considerado mais barato, o projeto de corredor exclusivo para ônibus acabou seduzindo mais o governo estadual, que hoje junta esforços com as prefeituras de Vitória, Serra, Vila Velha e Cariacica para colocar a ideia em prática.
"Hoje a questão não é ser contra o projeto, mas pensar numa solução imediata, e não em algo para daqui a dez anos. Hoje o VLT pode não ser viável, mas talvez daqui a alguns anos", explicou o secretário de Estado dos Transportes e Obras Públicas, Neivaldo Bragato
O metrô de superfície sempre encontrou resistência do governo estadual. Ainda em 2004, o então secretário estadual de Planejamento, Guilherme Dias, já garantia não existir "a menor possibilidade de o governo colocar dinheiro num projeto como esse".
Após a vitória de João Coser no pleito, o governador Paulo Hartung classificou a proposta como inviável financeiramente, mas não se considerava contra sua realização. "Trabalho com realismo. O metrô não é viável para uma prefeitura administrar, nem para o governo do Estado financiar", disse.
VLT está no Plano de Mobilidade da prefeitura
De acordo com o Plano Diretor de Transporte e Mobilidade Urbana de Vitória (PDTMU), o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) poderá ter integração com as linhas de ônibus municipais e do Transcol, com capacidade para transportar entre 250 e 400 passageiros em até três veículos pela região metropolitana da Capital. Dentro de Vitória, o traçado proposto para o metrô seguirá por corredores no canteiro central de avenidas como Fernando Ferrari, Nossa Senhora da Penha e Vitória, além da região do centro, que terá também passagens subterrâneas para o VLT. Segundo a Companhia de Desenvolvimento de Vitória (CDV), o novo sistema de transporte público traria uma redução de 30% na extensão dos congestionamentos na Capital.
Como ele nasceu
Promessa de campanha
No seu programa eleitoral de TV, na campanha de 2004, o então candidato João Coser (PT) exibiu uma animação gráfica do metrô em movimento. A implementação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) foi apontada como uma das soluções para os problemas de mobilidade urbana de Vitória.
Nos planos do governo federal
Publicado no Diário do Poder Legislativo em outubro de 2004, o Plano Plurianual de Aplicações (PPA) 2004-2007 previa a destinação de R$ 3,1 milhões para a elaboração do projeto, o que foi negado na época pelo então secretário de Estado do Planejamento, Guilherme Dias.
Lançamento do projeto
Descartado pelo governo estadual, o prefeito apresentou no final de 2007 o projeto do metrô, com estudo de viabilidade técnico-operacional e econômico-financeiro para sua implantação. O projeto integrava o Plano de Mobilidade Urbana de Vitória.
Pedido de apoio
Em visita do presidente Lula ao Estado em fevereiro de 2008, Coser aproveitou para pedir apoio do governo federal para a implantação do projeto. Lula afirmou que a ideia seria estudada por sua equipe em Brasília. O prefeito entregou uma cópia do projeto básico, com custo de R$ 915 milhões, e pediu que Lula analisasse com "seriedade e carinho". A bancada federal capixaba chegou a apresentar emendas ao Orçamento da União prevendo recursos para o projeto do metrô.
Prefeito admite adiar proposta
Após ser reeleito, João Coser, atento ao cenário de crise, admitiu adiar o início da implantação de grandes projetos apresentados, como o metrô de superfície.
A GAZETA acompanhou as várias fases
Desde o início do lançamento da ideia do VLT, A GAZETA acompanhou o andamento do projeto e as conversas entre prefeitura de Vitória e governo do Estado. Em 20 de outubro de 2004, o jornal mostrava a divergência entre o governador Paulo Hartung e o prefeito João Coser, que tinha o apoio de outros prefeitos. No ano passado, no dia 20 de fevereiro, Coser aproveitou a visita do presidente Lula para pedir apoio ao projeto.
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