21/09/2025 - Guarulhos Todo Dia
Por Vinícius Andrade
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Projeção em imagem gerada por IA do VLT
passando na avenida Otávio Braga de Mesquita, em Guarulhos
Estudo de Pré-Viabilidade Técnica foi concluído em 2023, mas ideia não avançou e sequer foi mencionada nas eleições de 2024
É um projeto pouco conhecido e que não esteve em pauta nas eleições municipais do ano passado. No entanto, Guarulhos investiu anos de planejamento para pesquisar a viabilidade de construir uma rede de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), conectando a região central da cidade ao aeroporto. O Estudo de Pré-Viabilidade Técnica, Econômica e Socioambiental (EPVTEAS) do VLT foi concluído em 2023, consolidando o plano para a implantação de um novo modal de transporte sustentável passando por bairros populosos na cidade.
A ideia começou a ganhar mais forma a partir do Plano de Mobilidade Urbana de Guarulhos, que ficou pronto em 2019, durante a gestão do ex-prefeito Guti. A elaboração do EPVTEAS foi fruto de uma parceria da Prefeitura de Guarulhos com instituições de desenvolvimento internacional e nacional.
O projeto foi selecionado em uma chamada técnica de 2021, recebendo apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco de Desenvolvimento Alemão (KfW). Guarulhos foi a única cidade não capital contemplada neste apoio, juntando-se a capitais como Curitiba, Fortaleza, Recife e Salvador.
A Prefeitura de Guarulhos já vinha trabalhando no projeto, submetendo a documentação ao BNDES em maio de 2021, com base em um desenho atualizado do traçado proposto em 2018 em parceria com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD/CODATU). O objetivo é fazer com que o VLT se torne a “espinha dorsal” do transporte público municipal.
A ideia é muito interessante e poderia colaborar para melhorar a cada vez mais caótica mobilidade urbana de Guarulhos. O problema, porém, é que esse plano não esteve em pauta durante a campanha de 2024 –nem mesmo o então candidato Jorge Wilson – Xerife do Consumidor (Republicanos), que representava a continuidade de Guti, incluiu o VLT municipal em seu plano de governo. Lucas Sanches, o atual prefeito de Guarulhos, também não tem o projeto como uma de suas promessas.
Neste texto, após consultar o Relatório Final do Estudo de Pré-Viabilidade Técnica, Econômica e Socioambiental, publicado em 2023, o Guarulhos Todo Dia explica o projeto. Quem sabe um dia essa ideia não saia do papel…
Detalhes do traçado
O VLT é um meio de transporte de alta qualidade e solução de energia limpa, que utiliza a nova geração de bondes elétricos.
O traçado estudado, com aproximadamente 11 km de extensão, tem como objetivo conectar a região do Parque Linear Transguarulhense, próximo ao Parque Shopping Maia, à estação Aeroporto/Terminal Metropolitano do Taboão, passando pela avenida Paulo Faccini (ou pelo Centro de Guarulhos). As avenidas Monteiro Lobato, Otávio Braga de Mesquita e a Praça 8 de Dezembro estão incluídas têm estações no traçado. Confira:

Traçado e estações do projeto de VLT de Guarulhos
O estudo analisou duas variantes de traçado, que se diferenciam pela forma como atravessam o Centro:1. Variante Salgado Filho (SF): Este traçado (11,067 km) passa diretamente pelo Centro (incluindo a Avenida Salgado Filho e a Rua João Gonçalves), tendo o potencial de promover a renovação urbana e reforçar o Centro como uma importante centralidade. No entanto, a inserção nesta variante é mais desafiadora devido ao perfil de via mais estreito e à maior declividade (subidas e descidas).
2. Variante Paulo Faccini (PF): Este traçado (10,756 km) margeia o Centro (pela Avenida Paulo Faccini), o que poderia induzir o desenvolvimento e a expansão de atividades econômicas e residenciais para o trecho. Esta variante facilita a conexão com a futura estação Bosque Maia da Linha 19-Celeste do Metrô.
A equipe consultora responsável pelo EPVTEAS recomendou a Variante Paulo Faccini. A justificativa é que, apesar de ter um custo de investimento um pouco mais alto, esta variante oferece uma melhoria urbana mais abrangente, incluindo calçadas mais largas e acessíveis e uma rede cicloviária bem dimensionada, além de evitar o impacto no alinhamento de árvores importantes e a complexidade de tráfego na Rua João Gonçalves.
Demanda de passageiros
O estudo de demanda preliminar apontou que o VLT de Guarulhos tem um forte potencial de demanda diária de passageiros. As três metodologias de cálculo utilizadas (Modelo Estratégico, dados de bilhetagem e pesquisas de campo) convergiram para uma demanda diária em 2030 entre 60.000 e 90.000 viagens.
Traçado Demanda 2030 (Passageiros/dia) Demanda 2050 (Passageiros/dia)
Variante Paulo Faccini 54.066 68.663
Variante Salgado Filho 59.237 75.231
A demanda no trecho mais carregado na hora-pico da manhã (sentido Oeste-Leste, próximo ao centro) foi estimada em 2.203 passageiros/hora/sentido (PF) e 2.319 passageiros/hora/sentido (SF) em 2030. Estima-se que 80% dos passageiros virão do transporte coletivo existente e cerca de 20% migrarão do transporte individual.
Quanto custa o projeto de VLT em Guarulhos?
Os custos de investimento consideram a ambição de renovação urbana integral do corredor.
Custo Total (Estimativa em R$ 2023) Variante Paulo Faccini Variante Salgado Filho
Investimento (CAPEX) R$ 1.625.592.000 R$ 1.624.513.000
Custo por km (CAPEX/km) R$ 148.918.000 R$ 144.324.000
Os custos de R$ 1,6 bilhão incluem material rodante, com a necessidade de uma frota de 15 trens (PF) ou 16 trens (SF), de 44 metros de comprimento e capacidade para 300 passageiros com lotação de 4 passageiros/m².
Em relação aos custos anuais de operação e manutenção (OPEX), em 2030, a Variante Paulo Faccini é estimada em R$ 31.500.000, enquanto a Salgado Filho em R$ 33.750.000. O EPVTEAS concluiu que a receita tarifária é superior aos custos operacionais em ambas as variantes, resultando em uma Taxa Interna de Retorno (TIR) positiva para o fluxo de caixa operacional (12,39% para PF e 9,65% para SF).
Benefícios do VLT em Guarulhos
A avaliação socioambiental preliminar indica que o projeto é pré-viável e possui grande potencial para gerar impactos positivos.
O VLT é uma solução de energia limpa. A substituição de viagens por modos mais poluentes resultará em uma mitigação de GEE (Gases de Efeito Estufa) estimada entre 7.000 e 7.700 toneladas de CO2 equivalente por ano a partir de 2030, atingindo cerca de 16.000 toneladas de CO2 equivalente por ano em 2050. Para um usuário diário no corredor, o VLT oferece a possibilidade de reduzir sua pegada de carbono em um fator de 36 em comparação com o uso do automóvel.
Ao longo de 30 anos de operação (2028-2057), a economia total gerada pelas externalidades positivas do VLT é estimada em cerca de R$ 3,7 bilhões. Os principais benefícios incluem:Economia nos custos de operação de ônibus (41,8% dos benefícios totais).
Redução das emissões de GEE (33,2%).
Economia de tempo para usuários do transporte coletivo (18%).
O projeto também contribui para a requalificação urbana, estimulando novos negócios imobiliários, mudando positivamente os padrões de uso do solo, e dinamizando a economia local, com potencial incremento da arrecadação tributária.
Além disso, a implantação de ciclovias é explicitamente mencionada no Plano de Mobilidade Urbana (PMU) de Guarulhos como uma intervenção necessária para a melhoria das condições atuais da mobilidade ativa na cidade. Com o VLT, a ideia seria também abrir mais espaço para as bicicletas.
Desafios socioambientais e ruas ‘apertadas’
Os impactos negativos mais significativos estão ligados à fase de obras e à necessidade de desapropriações. Afinal, você deve estar lendo e se perguntando: como colocar um VLT em avenidas que já têm pouco espaço, como a Otávio Braga e a Monteiro Lobato?
Para tirar o projeto do papel, o poder público precisaria viabilizar a análise técnica para desapropriações, como acontece em obras do Metrô, realizando a adequação da caixa viária e das estações, especialmente na Otávio Braga de Mesquita.
A fase de construção também envolveria interferências intensas no tráfego, com remanejamento de rotas de ônibus e restrições na circulação de pedestres.
Nas imagens abaixo, é possível entender a metragem que as avenidas têm hoje para veículos e pedestres e qual seria o espaço ideal com o novo meio de transporte –o VLT precisa de 6,5 metros da via.


Integração com a CPTM e o Metrô
O projeto do VLT de Guarulhos busca ser um ponto de conexão e intermodalidade com outros sistemas de transporte de alta capacidade, alinhado ao Plano de Mobilidade Urbana (PMU) de Guarulhos.Linha 13-Jade da CPTM: Inaugurada até o Aeroporto, a linha tem previsão de extensão até Bonsucesso. Esta expansão é estratégica para atender à demanda das regiões de Jardim dos Eucaliptos, Jardim São João e Jardim Presidente Dutra, e potencializa a integração com o VLT na estação Aeroporto/Terminal Metropolitano do Taboão.Linha 2-Verde do Metrô: A Linha 2-Verde está em expansão até Guarulhos, passando pela Penha até as proximidades do Internacional Shopping. Com a fase de licitações adiantadas, as obras na cidade nesse trecho estão previstas para começarem em 2026 e terminarem depois de 2032.Linha 19-Celeste do Metrô: Este projeto de expansão do Metrô de São Paulo conectará Guarulhos ao centro da capital e terá cinco estações no município, passando por Itapegica, Vila Augusta, Centro e Bosque Maia. O leilão para definir as empresas que construirão a linha acontecem nesta semana (a última de setembro de 2025) e as obras devem começam em 2027, com previsão de conclusão a partir de 2033. O VLT facilitará o acesso aos usuários dessas estações, especialmente na variante que se integra diretamente à Estação Bosque Maia.
O Estudo de Pré-Viabilidade Técnica, Econômica e Socioambiental considerava a inauguração do VLT em Guarulhos para 2028, o que é claramente impossível de acontecer. Quem sabe, até lá, a Prefeitura de Guarulhos consiga construir parcerias para tirar esse sonho do papel.
Vale destacar que esse projeto de VLT é municipal e não tem relação com o projeto estadual da Linha 14-Ônix, que pretende ligar o bairro do Bonsucesso ao ABC paulista.
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